Em cada hora do tempo errante, em que os ponteiros do relógio entorpecido pela dolência dos dias, rodam no sentido contrário da vida, marcando o tempo que não volta, invento-te...Invento-te no meu imaginário de sonho e desvelo, onde se projectam imagens irreais numa tela de fantasia que vou moldando a meu belo prazer. E faço com que voltes sempre ao meu encontro, em cada desejo que me invade a mente na dormência da inquietante e insuportável ausência de ti. E então, vejo-te chegar ao longe, com um esboço de sorriso preso ao brilho do meu olhar...Damos as mãos e corremos pelo verde da minha esperança, saltando os muros da nossa distancia e escalando as fragas das minhas incertezas, rumo ao paraíso que inventei no mesmo instante em que te perdi...Subitamente, sou acordada do meu sonho com uma badalada seca, que me soou como um bocejo saído da boca escancarada daquele relógio trocista... e dou comigo em devaneio, com as mãos a ampararem-me o queixo e o olhar fixo num ponto invisível, marcado algures no branco da parede ali especada, mesmo à minha frente. Mas porque me roubaste tu, ao delírio da fantasia?Porque me cobras tu, estes breves minutos de prazer?Acaso te deverei alguma coisa?!Não. Nos meus sonhos sou eu quem mando! Se eu quiser, inverterei o sentido da tua marcha, ainda que por breves momentos...Eu sei... eu sei... és uma espécie de Deus na terra, o todo poderoso, que tanto dá como tira... a vida!